domingo, 30 de março de 2014

Hippolyte Bayard (1801-1887), Le Noyé (Self-portrait as a drown man), 1840

Ainda que a questão da paternidade do processo fotográfico não possa ser atribuída somente a um indivíduo, comummente, são considerados quatro nomes cujos esforços em muito contribuíram para o desenvolvimento e implementação da fotografia: Joseph-Nicéphore Niépce (1765-1833), Louis Daguerre (1787-1851), William Henry Fox Talbot (1800-1877) e Hippolyte Bayard (1801-1887).

Bayard foi, talvez, o mais auspicioso dos quatro nomes referenciados, tendo produzido um conjunto de imagens considerável e diversificado, para a época.

O francês acreditava que as suas descobertas, assim como os resultados obtidos, o colocavam à frente dos demais inventores. No entanto, não conseguiu esse reconhecimento por parte das autoridades que anunciaram Daguerre como o inventor do medium fotográfico.

Na sequência desta ocorrência, a 18 de Outubro de 1840, Bayard realiza uma série de três invulgares auto-retratos, que ficaram conhecidos por Le Noyé (Self-portrait as a drown man) (Imagens 1 a 3).

Nestes retratos vemos, numa pose de influência clássica, um indivíduo sentado, de tronco despido, de olhos fechados, envolto num lençol e rodeado de alguns adereços. A cor do tronco contrasta com a cor da face e das mãos. O homem parece estar adormecido.

Nas costas de uma das fotografias (Imagem 3) encontramos um peculiar texto manuscrito, assinado por 'HB' (Imagem 4).

Este texto fala-nos da imagem que vimos ou que estamos prestes a ver. 
Ficamos a saber que o homem da imagem é o falecido Senhor Bayard, o engenhoso inventor da fotografia. Por não ser reconhecido como inventor do medium por parte dos academistas, o inventor sucumbiu de desgosto e deixa-nos estas imagens que o atestam.

Estes auto-retratos põem em causa o (suposto) caráter mimético da fotografia e a relação de coincidência com o real, sendo particularmente interessante por ter sido feita, precisamente, nos primórdios do desenvolvimento do medium fotográfico e numa altura em que o caráter mecânico e imediato da fotografia se propunham como um substituto, por excelência, da pintura que era feita na altura.




Imagem 1




Imagem 2




Imagem 3




Imagem 4






Fonte das imagens:
POIVERT, M. (introd.) (2001). Hippolyte Bayard. Paris: Centre National de la Photographie. 

Fontes do texto:

BATCHEN, G. (1999). Burning with desire: the conception of photography. Cambridge, Mass.; London: The MIT Press.
POIVERT, M. (introd.) (2001). Hippolyte Bayard. Paris: Centre National de la Photographie. 
SCHWARZ, A. (introd.). (1987). Hippolyte Bayard: inventeur et pionnier de la photographie. Amiens: Maison de la Culture d'Amiens.
SOUGEZ, M. L. (2001). História da Fotografia. Lisboa: Dinalivro.

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